Via : Revista PEGN

Publicado: quarta-feira, 28 março, 2018 às 13:24
A demanda por soluções que facilitem o fluxo de informações entre advogados, clientes e juízes abriu novas oportunidades

A morosidade do sistema jurídico brasileiro não é obra do acaso. Entre as principais causas da ineficiência, estão a complexidade burocrática e o volume avassalador de processos que tramita pelos tribunais — segundo o último levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, são mais de 100 milhões de ações registradas por ano. A demanda por soluções que facilitem o fluxo de informações entre advogados, clientes e juízes abriu novas oportunidades para as lawtechs, nome dado às startups especializadas em tecnologias para o setor jurídico.

A ascensão desses negócios despertou o interesse de aceleradoras e fundos de investimento, que intensificaram suas apostas em soluções como plataformas de big data e sistemas de automação para agentes públicos e privados.

Fundada em 2006, a upLexis é uma das empresas que vêm se destacando no segmento. Com uma solução baseada no uso de ferramentas de buscas e tecnologias de varredura de dados, a startup paulistana mantém seus usuários atualizados sobre o andamento de processos, anúncios no Diário Oficial e despachos de juízes. A solução já é usada por mais de 2.000 clientes.

O público-alvo é composto por escritórios de advocacia, órgãos públicos e empresas de auditoria. No ano passado, o faturamento foi de R$ 10 milhões. “A coleta de dados relevantes é o nosso maior diferencial. Reinvestimos até 15% da receita de vendas para manter a plataforma atualizada e precisa”, diz o CEO, Eduardo Tardelli, 42 anos.

Ajuda para os tribunais

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Advogada robô

A Legal Labs é uma startup brasiliense especializada em tecnologias de inteligência artificial para a área de Direito. No início do ano, a empresa lançou a Dra.Luzia, plataforma de automação de processos jurídicos. As funções incluem o monitoramento de decisões de juízes e a emissão de petições simples — o sistema é capaz de produzir até 668 petições em 1,3 segundo. O índice de precisão chega a 90%. “Empresas como operadoras de telefonia acumulam dezenas de milhares de processos. A Dra.Luzia identifica padrões e cria documentos que podem ser aplicados a diversos casos”, afirma o fundador Ricardo Fernandes, 39 anos. Neste ano, a startup deve faurar R$ 300 mil.

Regulação sob controle

Fundada em 2015, em São Carlos (SP), o SigaLei ajuda corporações a lidarem com políticas regulatórias. A partir do monitoramento de projetos de lei e de discussões parlamentares, o aplicativo antecipa potenciais mudanças legislativas — e as medidas necessárias para se adaptar às novas regras. O modelo de negócios é baseado em assinaturas mensais (o preço varia de acordo com o volume de dados analisados). A previsão de faturamento para 2017 é de R$ 400 mil. “Os clientes podem usar as informações para tentar influenciar os rumos dos processos ou ajustar suas estratégias”, diz o CEO, Danilo Oliveira, 28 anos.

Fora dos tribunais

Cansado da lentidão e da lotação dos fóruns cariocas, o advogado Bruno Feigelson, 31 anos, criou a Sem Processo, startup que facilita a formação de acordos extrajudiciais. A plataforma faz toda a intermediação do processo — do recebimento da petição à apresentação dos termos de negociação. Cerca de dois anos após o início da operação, o sistema contabiliza uma média de 5.000 acordos fechados por mês. “Trata-se de uma solução que gera economia de tempo e dinheiro para todas as partes. Alguns dos problemas de nossos clientes poderiam levar anos para serem resolvidos no tribunal”, afirma.

Referência global

Referência entre lawtechs de todo o mundo, a americana LegalZoom é especializada em serviços de registro e gerenciamento de direitos autorais. O público-alvo são pequenas empresas em busca de alternativas mais baratas de gestão de propriedade intelectual — o plano anual de assinatura custa US$ 300, em média. Criada em 1999, a empresa já atendeu mais de 4 milhões de clientes. Depois de realizar uma série de aquisições, a LegalZoom expandiu a sua operação para o Reino Unido, em 2015.

Lawtechs brasileiras: unidas por uma boa causa

A consolidação das tecnologias jurídicas resultou na criação de eventos segmentados e organizações voltadas a negócios do setor. É o caso da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L). Lançada em julho, a iniciativa reúne 50 startups de diversas regiões. O objetivo é identificar oportunidades entre os associados e mapear o potencial do mercado nacional. A última pesquisa realizada pela entidade apontou, por exemplo, que 62% dos escritórios de advocacia brasileiros estão em busca de serviços de inovação tecnológica. “Estamos passando pelo início da curva de crescimento. Ainda existe muito espaço para expansão”, afirma Bruno Feigelson, 31 anos, presidente da AB2L e fundador da startup Sem Processo (saiba mais na página ao lado). “Serviços jurídicos são necessários em praticamente todos os mercados”, diz.

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