Via : Endeavor
Imagine a seguinte situação: você é sócio de uma empresa que atua, por exemplo, no ramo da educação. Como gestor, você deve (preferencialmente) ter uma visão bem definida para o seu negócio, certo? Deve trabalhar duro para implementar a cultura organizacional que considera ideal para a operação, com valores, hábitos e crenças que entende serem indispensáveis para o crescimento.
Agora, e se o seu sócio não concordar com isso? E se, por algum insondável desígnio do destino, vocês tenham perdido aquela sinergia que foi tão importante para a empresa quando ela ainda engatinhava, como startup?
É triste, porém mais comum do que você imagina. Como em qualquer relacionamento, uma sociedade está sujeita a essas intempéries. Pois, por mais sólidas que sejam as afinidades que unem os sócios, muitas vezes suas naturezas se impõem, e o caldo pode entornar.
- Dores são inevitáveis, mas têm cura
Não tem jeito: relações humanas estão sujeitas a cotoveladas e joelhadas. No entanto, uma vez que, no ambiente de negócios, esses desentendimentos entre sócios são frequentes, o próprio mercado foi desenvolvendo práticas que ajudam a curar a dor que causam.
Tomemos como exemplo um caso fictício. O da Seiva, empresa do setor de biotecnologia. Há algum tempo, quando estavam prestes a entrar em uma fase acelerada de expansão, os sócios enfrentaram divergências. Algo precisava ser feito para que o desempenho do negócio não fosse comprometido.
- Um bom acordo de acionistas para reduzir danos
A primeira — e principal — medida para evitar problemas maiores deve ser tomada no início de uma sociedade: a elaboração de um amplo acordo de acionistas. Esta é a ferramenta jurídica que mais dá respaldo para desentendimentos entre sócios.
Paulo Cezar Aragão, advogado e sócio do escritório Barbosa, Müssnich e Aragão, tem uma definição certeira sobre o assunto: “se o acordo de acionistas for bem feito, vai estar empoeirado antes que você precise lê-lo de novo”. Por isso, deve ser elaborado no momento em que você e seus sócios estão em bons termos, sem grandes impasses.
No caso da Seiva, até havia um acordo societário, mas não era abrangente o bastante para solucionar os problemas que surgiram.
- Governança: o caminho para colocar ordem no coreto
As principais desavenças aconteceram no campo da cultura da empresa: os sócios não conseguiam alinhar a gestão a partir dos mesmos valores organizacionais. E a solução passava obrigatoriamente pela adoção de práticas de governança corporativa.
Sim, as várias regrinhas dão sentido à rotina de um negócio. E que dão mais agilidade, transparência e autonomia às atividades da empresa, independentemente do tamanho que ela tenha.
Uma dessas regras é a instituição de conselhos administrativos. Pode perguntar para qualquer especialista em gestão: os conselhos são fundamentais para a regulamentação das operações — e, em último caso, para a implantação de uma cultura única, compartilhada por todos.
Um conselho de sócios, por exemplo, pode ajudar um bocado. Pois é o órgão que vai ditar as principais decisões e mitigar eventuais riscos que possam surgir em uma sociedade.
Leia mais: 3 práticas de governança corporativa que não podem faltar na sua empresa
- De olho no que vem aí, e não no que passou
Os gestores da Seiva até haviam formado um conselho. Mas o órgão se ocupava mais com o “retrovisor” do que com o caminho à frente. Os sócios não se entendiam a respeito disso. As reuniões se perdiam em meio a questões de gestão, do dia-a-dia.
Então, foram orientados a deixar de lado tudo o que dissesse respeito ao cotidiano. A esquecerem o retrovisor — esta não é a função de um conselho administrativo. Ele serve para agregar valor a um negócio, e os sócios precisam estar alinhados a que tipo de valor é este.
Como a Seiva se preparava para crescer, a discussão tinha que focar a tecnologia: o modelo seria replicável? Como será o modelo de negócios? Estas questões contribuíram para que os sócios entendessem a importância de superar as desavenças e de manter o alinhamento.
- Quando os impasses parecem não ter solução
Se esse alinhamento não tivesse acontecido, os sócios da Seiva provavelmente teriam chegado a um beco aparentemente sem saída. E aí, o que fazer?
Uma das saídas pode ser a mediação interna, ou intraorganizacional. Neste caso, o processo da resolução dos impasses seria conduzido por algum dos sócios ou por funcionários da empresa.
Mas, para que essa mediação dê certo, é indispensável que os envolvidos sejam bem capacitados. Sem treinamento, o processo pode ser visto apenas como parte da “burocracia interna”, ou como o temível “diz-que-me-diz”. Uma outra possibilidade é a mediação externa, realizada por um profissional.
Dá trabalho, exige esforços, mas vale a pena. O uso adequado da mediação pode apresentar saídas para aqueles impasses que parecem insolúveis. Neste artigo do RH Portal, você encontra mais informações sobre o assunto.
- A importância da empatia
Para concluir, vale mencionar o quão fundamental é a empatia no momento de solucionar desentendimentos entre sócios. Principalmente quando o “divórcio” parece inevitável. Quando tudo parece perdido e a sociedade está naufragando, o “sentir com” pode ser a bóia de salvação que todos procuram.
Porque, às vezes, só conseguimos compreender comportamentos de uma determinada pessoa se nos colocamos no lugar dela. É um exercício que requer grandeza e paciência, é verdade, mas que pode quebrar enormes barreiras em uma sociedade.